No centro do país, em Pedrogão Grande, aparentemente a partir de uma trovoada seca e de um raio fulminante, desfez-se uma grande árvore. É certo que ninguém estava lá para ver e gritar os primeiros alarmes. Mas tudo se viu após o desenrolar da catástrofe, um incêndio de chamas altíssimas e cavalgantes, mordendo brutalmente os "mastros" de milhares de eucaliptos e pinheiros bravos. As aldeias por ali ficaram em perigo. As comunicações perderam-se ou nem chegaram a acontecer na devida conta de urgência. Todas as forças que se dirigiam para aquela zona não cortaram uma das estradas principais. Aviões canadair foram enviados num pedido de socorro do governo português, vindos da França, da Itália, da Espanha. Na estrada aberta por esquecimento e aflição entravam carros fugindo e pouco depois percebiam (os condutores) que estavam diante de um alto cenário opacificante jamais visto por todos aqueles desgraçados, cada vez mais desorientados, sem ver, batendo uns nos outros, morrendo de sufocação e, pouco depois cremados nos carros em chamas. Tudo foi um horror, uma tragédia, e toda a gente que seguia tal desastre já desatava os mesmos preceitos contra as autoridades e proprietários, as manchas absurdas de eucalipto e pinheiro, a falta de espaços intercalares e limpeza da caruma, bem como os gananciosos que levavam o "zelo" a plantar eucaliptos rentinho à berma da estrada e não a dez metros, como manda a lei. Todos os anos é assim, todos os anos a baralhada de meios e contradições na Assembleia da República responsabilzam uma gente esquisita, pirómanos psicopatas e políticos e corrruptos. Mas no ano seguinte verifica-se que não se fez nada — e a bela paisagem que temos vai sendo abandonada a leste, com poucas aldeias e muito poucos habitantes, já incapazes de produzirem o suficiente para a sua inacreditável solidão.
O governo deveria descentralizar centenas
de actividades, construir no interior, abrir espaço em concordâncias de
todos os tipos, bem vigiadas, bem geridas, bem pagas. Não se trata de fazer mais
turismo por lá, com hotéis e hotéis rasos e lagoas para nada. Precisamos
de inventar o OUTRO LADO do país, replantar na devida ordem
científica o que preguiçosamente não existe por ordem tola do dinheiro,
bancos atirando acções à rua. Cada vez mais se espera mais que se deixem de
corridas à boca do fogo, talhando comissões políticas já-já, partidarizá-las, tudo
num grande desarrumo, entre demandas e vozes sobrepostas, impossíveis de puxarem grande
desarrumo, entre demandas e vozes sobrepostas, impossíveis de puxarem o pensar
e o sentido plausível para uma ordem da paisagem e do design que saiba como as
estradas se fazem em nome de um futuro para mais gente, menos imigrantes falsificados
e sobretudo a inovação no espaço agrícola, moderna e limpa.
A Europa? Mas a Europa foi antes, está em
mutação, aceita como boa a Globalização e os seus pontos de ordem,
entraves, querelas, povos sequestrados.
Se me lembro dos barcos? Desde as
caravelas às viagens de achamento de terras, idas e vindas, cargas e descargas. E também vi, na
primeira década depois do 25 de abril de 74, grandes máquinas serrarem navios
cargueiros. Não sei se os negociavam, enferrujados, ou como tratam hoje milhões
de toneladas de ferro enferrujado e de madeira queimada. Havia um homem na
minha terra que dizia destas coisas: "javardices".
Rocha de Sousa (em apuros)